O BURACO NEGRO DA OBSOLESCÊNCIA
Conversando com um proprietário de academia < cuja pintura está deteriorada, tem vários equipamentos com estofado rasgado, tirou o sinal wi-fi da musculação, não paga comissão nem para vendedores nem para professores e não investiu um centavo em treinamento de capacitação para sua equipe em 2015 > que inconsolavelmente reclamava dos “concorrentes desleais” de baixo preço e clamava, encarecidamente, por uma “dica” para “atrair mais clientes”, resolvi (re)publicar este post do ano passado. Disse-lhe que só conversaria com ele depois que se debruçasse sobre o texto e deixei uma provocação: “De quem será mesmo a “culpa” pela perda de seus clientes?!” Leia e me responda por favor.
As ondas de inovações que aconteceram na história da humanidade desde a criação da máquina a vapor, passando pela eletricidade e a eletrônica, até chegar aos sistemas de informação em redes que temos hoje (re)definiram, cada uma a seu tempo, a forma como nos organizamos em sociedade, o trabalho e as empresas. Atualmente as tecnologias de informação e comunicação modificam cada vez mais rápido o ambiente ao nosso redor. Isso impõe às empresas o mesmo princípio darwiniano de “adaptação para sobrevivência” do reino animal: Não importa o tamanho, ou elas se ajustam aos novos cenários ou correm o risco de desaparecer. O tiranossauro, assim como a Kodak, era enorme…
Para quem não está em sintonia com as mudanças correntes no mundo, o futuro chega de surpresa. É relativamente fácil de entender < depois de acontecer > o impacto de novas tecnologias que substituem, por obsolescência, produtos de gerações anteriores. Veja, por exemplo, a música digital. O CD fez desaparecer o walkman e as fitas cassete. Logo depois o formato mp3 transmutou novamente os aparelhos portáteis de mídia e eliminou o CD de áudio. A tecnologia não é nada gentil quando se trata de fazer substituições, que o digam os bancários. Segundo dados do DIEESE, na última década do século passado a tecnologia ceifou 46% dos empregos no setor bancário. A despeito do impacto social da automação, todas as vezes que uma inovação tecnológica facilita a vida das pessoas (vide Whatsapp) ela é prontamente acolhida. Ou você conhece alguém que tem saudade de pegar filas em banco para fazer depósitos?
Menos evidentes são as mudanças no ecossistema tecnológico que geram obsolescência nos modelos de negócio das empresas ou mesmo de setores inteiros. O advento da banda larga e a tecnologia de streaming mudaram radicalmente a forma como consumimos conteúdo de vídeo em nossas residências. E eliminaram todo o setor de aluguel de filmes em lojas físicas, também conhecidas como locadoras. A Blockbuster foi a maior rede de locadoras de filmes e videogames do mundo e chegou a valer U$ 8,4 bilhões. Apenas 4 anos depois da chegada dos serviços de vídeo on demand (Ex.: Netflix) a Blockbuster abriu falência. Em 2013, 7 anos depois, a Blockbuster deixou de existir. Por quê?
Porque surgiu uma alternativa mais conveniente e mais barata para o mesmo objetivo (ver filmes em casa). O iPhone provocou uma revolução na telefonia móvel. E lá se foi a Nokia, um dia a maior fabricante de celulares do mundo, tragada para o buraco negro da obsolescência! O Whatsapp e seus similares, somente em 2011, ceifaram U$ 13,9 bilhões (wow!) das operadoras de telefonia com a perda de receita vinda do SMS.
Não obstante todas as mudanças em curso, as academias operam praticamente da mesma forma desde seu surgimento. Quase nada mudou em seu modelo de negócios, que serve o cliente hiperconectado e transmídia do século XXI da mesma forma que servia o cliente analógico do século passado. Mas lembre-se de que a tecnologia não é gentil quando se trata de fazer substituições. Especialmente por algo melhor, mais barato ou mais fácil. E a mudança anunciada pela tecnologia vem em “ondas”, pequenas marolas a princípio, mas que anunciam verdadeiros tsunamis no horizonte.
As academias low-cost são uma dessas “ondas”. Hoje em praticamente todos os mercados nacionais alguém já sentiu o impacto de um novo concorrente com preços atraentes, máquinas novas e boa infraestrutura, drenar uma parcela significativa do mercado local < maneira rebuscada de dizer “captar o seu cliente” >. Mas espere aí! O conceito de “budget fitness” surgiu nos primórdios dos anos 2000, só que a “onda” levou mais de 10 anos para “quebrar” (tipping point) aqui no Brasil. Lá fora, como aqui, um cenário de recessão econômica impulsionou esse modelo de negócios ao oferecer uma alternativa mais barata < e o mesmo produto?! > ao cliente das academias tradicionais.
Outras ondas estão chegando. Por acaso você não tem (ainda) nenhum estúdio de treinamento funcional perto de você? Já ouviu falar das “tecnologias vestíveis”? Para não ser pego “com a prancha na mão” você precisa se manter atento aos sinais vindos do horizonte tecnológico e, desde cedo, preparar-se para surfar a onda da mudança. O maior risco que se corre, nestes tempos de mudanças, é justamente não mudar! Sem mudanças você começa a se aproximar perigosamente do buraco negro da obsolescência. Este, da mesma forma que seu equivalente sideral, suga a todos que gravitam em sua órbita para o limbo.
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