NEM DINHEIRO FAZ AS PESSOAS FREQUENTAREM ACADEMIA
O problema da evasão de clientes < churn rate > é o calcanhar de Aquiles do negócio das academias. Vender < colocar clientes para dentro > não é tão difícil assim. Com crise ou sem crise, e mesmo com menos visitantes, a venda continua acontecendo. O problema é que atualmente o volume de vendas não está conseguindo fazer frente à quantidade de saídas. E aí o barco comece a fazer água.
Seria o dinheiro < a crise > o que estaria levando ao aumento pronunciado da saída de clientes? Não há evidência disso. Muito pelo contrário! Apenas 2,5% dos desistentes o fazem por motivos financeiros¹. Os grandes “vilões” da desistência são a “falta de tempo” (58,8%) e “preguiça e desmotivação” (11,8%) respectivamente.
Dinheiro definitivamente não é o problema e não é por conta dele que as pessoas deixam de frequentar.
Uma pesquisa recente do National Bureau of Economic Research² (uma versão americana do nosso IBGE) revela dados interessantes sobre as motivações para frequentar academia. Foi oferecido a 836 novos alunos uma recompensa financeira que variou de 30 a 60 dólares (entre 90 e 190 reais) àqueles que fossem pelo menos 9 vezes nas primeiras 6 semanas.
O resultado? Decepcionante. O dinheiro foi incapaz de manter as pessoas dentro da frequência que elas tinham estabelecido para si mesmas no início do estudo, em média 3 vezes por semana. As pessoas iniciam com a melhor das intenções e extremamente confiantes (auto-eficácia elevada) mas a maioria não consegue fazer da ida à academia um HÁBITO.
E é justamente nesse ponto que os esforços para retenção falham: Não focam em criar estratégias para construção do HÁBITO de vir na academia. No Brasil, em particular, os dedos apontam para o “atendimento” como o grande “culpado” pela desistência. Grande equívoco.
TODAS as academias tem clientes que apesar de muito bem tratados < e extremamente satisfeitos com o atendimento! > desistem mesmo assim!
Quer dizer que o atendimento não é relevante para fixar o cliente na academia?
Alto lá! Ele não é, por si só, SUFICIENTE para garantir a renovação do cliente! Os componentes do atendimento, quando ausentes, potencializam a evasão já que ferem a essência da expectativa básica do cliente. Quem vai pagar para ser tratado com desrespeito e indiferença?! Mas ele, isoladamente, é incapaz de gerar fidelização.
A manutenção do cliente na academia é multimodal e está ancorada no trinômio ambiente-atendimento-experiência. Desses, é a EXPERIÊNCIA COM O EXERCÍCIO o componente mais relevante para a construção da intenção de continuidade do cliente!
Há muito já se sabe que quando as pessoas NÃO SENTEM DOR ou desconforto a aderência é maximizada³. Permitir que o próprio usuário escolha o nível de intensidade para seus exercícios garante uma experiência de exercícios mais confortável e prazerosa < e igualmente eficaz! >, estando positivamente associada à retenção⁴. Quando as sessões de treinamento ultrapassam 60 minutos o risco de evasão sobe exponencialmente⁵.
Nesse sentido, a experiência normal que uma pessoa tem com academias é um verdadeiro desastre para a fidelização! A ênfase nos aspectos técnicos leva à uma experiência LCD: longa, chata e dolorosa. Fazer séries longas ou dolorosas (lactato ou falha concêntrica) simplesmente não é agradável. Ficar 30 minutos andando numa esteira igual a um rato de laboratório é muito chato. Mais de 60 minutos dentro de uma academia é um tempo incompatível com o ritmo de vida do cidadão do Século XXI. Dois meses ou mais fazendo uma mesma ficha (mudar peso não conta) leva o cliente às fronteiras do Tédio Quântico!
Para manter os clientes na academia as pessoas devem ser tratadas com cortesia, educação e receberem auxílio (atendimento). Adicionalmente o ambiente deve ser atraente, estar sempre limpo, bem cuidado e oferecer itens de conforto e conveniência. Mas, para além disso, se a vivência < experiência com o exercício > for do tipo LCD o cliente vai, inevitavelmente, engrossar as fileiras dos desistentes. Quando você ligar perguntando por que as pessoas saíram elas vão dizer uma de duas coisas: “O professor não me dava atenção” ou “eu estou sem tempo no momento”. Boas desculpas, mas não bons motivos.
Parafraseando Keihan & Matsudo⁶: “No pain, no gain? No brain!”
Cleverson Costa
- Ministério do Esporte. Diagnóstico Nacional do Esporte, 2015.
- Carrera, M. et al. (2017). Can Financial Incentives Help People Trying to Establish New Habits? Experimental Evidence with New Gym Members. National Bureau of Economic Research, Working Paper 23567.
- Masters, K.S. & Ogles, B.M. (1998). Associative and Dissociative Cognitive Strategies in Exercise and Running: 20 Years Later, What Do We Know? The Sport Psychologist, 12, 253-270.
- Ekkekakis, P.(2009). Let them roam free? Physiological and psychological evidence for the potential of self-selected exercise intensity in public health. Sports Medicine, 39 (10), 857-888.
- Pollock, M. L. Prescribing exercise for fitness and adherence. In: Exercise Adherence: Its Impact on Public Health, R. K. Dishman (Ed.). Champaign, IL.: Human Kinetics Books, 1988, pp. 259-282.
- Keihan, V. & Matsudo, R. (2005). No pain, no gain? No brain! Diagnóstico & Tratamento, 10(4), 226-230.
One Reply to “NEM DINHEIRO FAZ AS PESSOAS FREQUENTAREM ACADEMIA”
Excelente texto professor Cleverson!Tive o privilégio de assistir suas aulas na pós graduação, estou muito feliz, hoje sou dono do meu negócio. Se passar por Ribeirão Preto SP, faça uma visita!