UMA NOTÍCIA MUITO BOA E DUAS BEM RUINS PARA PROFISSIONAIS DE FITNESS

UMA NOTÍCIA MUITO BOA E DUAS BEM RUINS PARA PROFISSIONAIS DE FITNESS

Dilbert-Smartwatch Project

“Carreira” para os profissionais liberais é uma forma análoga da palavra “estratégico” para as empresas. Ambas tem o sentido de “orientação para o futuro”. Por sua vez a palavra “gestão” tem relação com a tomada de decisão < ou escolhas > para o melhor uso de recursos < dinheiro, tempo, máquinas, gente >. Logo, “gestão de carreira” significa “as escolhas profissionais que vão impactar o seu futuro”.

É muito importante escolher um “rumo” acertado para dar à sua atuação/formação profissional. De preferência um que vai lhe garantir acertar no “sweet spot” do seu ikigai < nunca ouviu falar? Comece por aqui se souber ler em inglês ou veja este post para ter uma ideia de um conceito semelhante >.

Recentemente uma importante consultoria norte-americana publicou um relatório intitulado “Jobs of the Future: A Guide to Getting – and Staying – Employed over the Next 10 Years” que lança uma luz < na verdade um holofote! > sobre a carreira dos profissionais de fitness. Por que você deveria ficar animado com o conteúdo desse relatório?

  1. A fonte. Quem produziu esse relatório foi a Cognizant, uma empresa posicionada no #17 da “Fortune Future 50” e #9 da “Forbes Fast Tech25”! Ela consta também na NASDAQ-100 e S&P 500. Ou seja, o relatório tem “peso” e “pedegree”.

  2. O significado. A leitura da combinação das tendências econômicas e sociais que dão base à posição dos profissionais de fitness nesse relatório são, por si só, uma tremenda janela de oportunidade para ser explorada.

  3. O ponto fora da curva. Das 21 ocupações que emergirão nos próximos 10 anos e que serão a base para o trabalho no futuro, 17 são relacionadas a TAIT (acrônimo inventado por mim nesse momento como abreviatura para tecnologia, automação e internet das coisas) e as outras 4, de uma forma ou de outra, estão relacionadas a PESSOAS E COMPORTAMENTOS. Dentre essas, 2 tem relação direta com o MOVIMENTO HUMANO!

Então, sem mais delongas, uma das profissões que serão mais demandadas no futuro próximo (5 anos) é o:

Fitness Commitment Counselor ou Mentor de Comprometimento com Fitness.

Mas o que é isso exatamente?

Trata-se do profissional instrumentalizado para dar orientação diária, semanal ou quinzenal no sentido de MANTER as pessoas fazendo exercícios e se alimentar corretamente na construção e engajamento em hábitos saudáveis de vida.

Wow! How cool is that?!!

Como você deve se capacitar para explorar esse filão?

– Entenda como funcionam os wearables e como você pode extrair informação < relevante > deles.

– Tenha conhecimentos sólidos de fisiologia do exercício e nutrição.

– Entenda profundamente de DETERMINANTES DE ADERÊNCIA AO EXERCÍCIO.

– Conheça técnicas, princípios e teorias sobre MODULAÇÃO DE COMPORTAMENTO.

Para ser bem sucedido nessa área você vai ter que “se mexer” e buscar conhecimentos da Teoria da Auto-Determinação, Economia Comportamental e outras áreas que estudam o comportamento humano e a tomada < ilógica! > de decisão para questões do dia a dia.

E, obviamente, você precisa fechar a lacuna de seu próprio repertório básico de conhecimento: É Personal Trainer e < ainda > não sabe de distribuição de macronutrientes na dieta e coisas similares? É nuntricionista e < ainda > acha que para perder peso o indivíduo tem que fazer atividades “aeróbicas”? Estão ambos perdendo tempo. E dinheiro. Vão logo buscar conhecimento para fechar as lacunas < Atenção! Eu disse “conhecimento” e não “instituição de ensino superior”. Você precisa saber a diferença! >.

Aqui termina a boa notícia e começam as más…

1. Se você atua na/com supervisão de salão de musculação e “passa ficha” < i.e. ensina o movimento no aparelho e explica o método > ou se é um Personal Trainer que “fica do lado” para “motivar” e ainda “contando repetições”, mesmo assumindo que ambos elaborem uma “ficha personalizada”… Bem, esses profissionais estão com os dias contados. Simplesmente não há futuro para eles!

Tem havido um debate crescente e uma profusão de relatórios de pesquisa sobre o impacto da automação e da 4ª Revolução Industrial no trabalho dos seres humanos. Muitas perspectivas pragmáticas, algumas visões utópicas e outras distópicas. Com relação ao futuro dos profissionais de fitness, eu fico com a última.

Estamos chegando num “ponto de convergência” onde a tecnologia embarcada nos sensores de movimento dos celulares e videogames, reconhecimento de imagens, os assistentes de voz e redes neurais interconectadas baixaram de custo a tal ponto que tornam possível a criação de salas de musculação “inteligentes”.

Por “inteligente” entenda-se uma máquina/sistema que reconhece o usuário, guia ele pela sala, corrige o movimento durante a execução, dá feedback instantâneo e < ei! > “motiva” por meio de algoritmos baseados em técnicas, princípios e teorias sobre modulação de comportamento¹…

Nesse sentido, o job to be done² básico do treinador/professor será feito por uma alternativa de custo quase zero ao usuário. E que funciona! Lembre-se: Muitas vezes o usuário não quer/precisa de algo melhor, mas apenas bom o suficiente. Tem dúvida? Veja o sucesso das low-cost, qualquer uma < em qualquer segmento >, não precisa ser necessariamente no fitness. No fitness eu tenho certeza de que você pode extrair pelo menos um bom exemplo!

2. Vai chegar o momento, em breve, que vai “cair a ficha” dos empresários de fitness no Brasil com relação à cessão de seu espaço para personal trainers (PTs) e eles vão começar a cobrar um preço justo pelo uso de suas instalações e equipamentos.

A melhor analogia sobre essa relação que já vi foi dada pelo Prof. Marcos Tadeu neste texto, cuja ideia central reproduzo aqui para não cortar sua leitura: Imagina chegar num restaurante e dizer para o proprietário que você trouxe seu próprio cozinheiro, que ele vai apenas utilizar da infraestrutura da cozinha para preparar sua comida e, em contrapartida, o dono vai receber o valor da gorjeta do garçom…

Os motivos dados pelos PTs até agora para não pagar aluguel tem sido: O cliente “não ocupa” o professor do salão; o cliente paga a mensalidade, logo, o dono já está ganhando e; eu tenho uma carteira de “x” clientes, se for cobrar aluguel eu levo essa carteira para outro lugar…

Mas esses argumentos são frágeis e a mudança é inevitável. Por dois motivos: Um é o imperativo da sobrevivência < show me the money! >. O outro é o benchmarking das experiências de outros mercados. Quando notícias como essa começarem a pipocar na IHRSA, e em outros eventos onde o empresário vai buscar conhecimento para melhorar seu negócio, eles vão, pouco a pouco < porque a maioria tem pouco conhecimento de gestão e é medrosa > começar a cobrar aluguel, uma vez que agora a Lei da Terceirização e as mudanças na CLT dão mais proteção jurídica à relação proprietário/personal.

Para encerrar:

“Pimenta no olho dos outros é refresco” é um ditame popular usado para expressar distanciamento ou indiferença à coisas ruins que acontecem a outrem. À primeira vista, quando nos deparamos com uma situação que ainda não está evidente e cujas consequências não nos agradam, a tendência é ter uma atitude de indiferença ou negação. Aconteceu com os proprietários de academias com relação às low-cost. Não deixe acontecer o mesmo com sua carreira!

A maior dificuldade para aceitar esse futuro < próximo > é que ainda NÃO HÁ muitas evidências da automação das salas e da obsolescência funcional dos profissionais “normais”, ou seja, aqueles que fazem o “básico” e cujo modus operandi é “automatizável”. Por isso deixo algumas dicas de exemplos de situações que já foram apenas projeções “distantes” e hoje são uma realidade inegável de mudanças irrefreáveis:

– Veículos autônomos.

Fim dos carros com motor à combustão;

– Inteligência artificial que lê e entende textos.

– Softwares < robôs > que aprendem sozinhos e superam os seres humanos em tarefas específicas.

A única forma de se prevenir desse futuro, segundo o World Economic Forum (WEF) é reeducar(-se). Buscar desenvolver não só novas competências técnicas, mas principalmente desenvolver as soft skills, suas habilidades de vendas e aprender não apenas a “pensar fora da caixa” mas, sobretudo, a “ver além do horizonte visível”.

O risco de não fazer isso? Integrar uma nova classe social: A Classe dos Inúteis!

Nas palavras de Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party:

 “A revolução digital já está acontecendo e não vai ter surpresas, vai ter surpreendidos”.

Prof. Cleverson Costa

PhD Researcher

Lisbon School of Economics & Management

Universidade de Lisboa – Portugal

  1. Gadde, P., Kharrazi, H., Patel, H., & MacDorman, K. F. (2011). Toward monitoring and increasing exercise adherence in older adults by robotic intervention: a proof of concept study. Journal of Robotics2011.
  2. Christensen, C. M., Hall, T., Dillon, K., & Duncan, D. S. (2016). Know your customers’ “jobs to be done”. Harvard Business Review9, 54-62.

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