PERIGO REAL E IMEDIATO

Online-Fitness

A inovação de ruptura é aquela que surpreende e encanta ao introduzir novidades ou conceitos que todos nós acabamos por adotar ao mesmo tempo em que faz desaparecer produtos ou mesmo setores inteiros.

É o que explica o fim das locadoras de filmes com o advento do streaming, o desaparecimento dos telefones fixos com o surgimento do celular, a obsolescência dos celulares com teclado com o aparecimento das telas sensíveis ao toque e a atual guerra dos taxistas contra os aplicativos de transporte.

O novo sempre causa euforia e rende conversas acaloradas ou saudosas nas festas e nas mesas de bar.

Existem três grandes motivos pelos quais nós adotamos uma nova tecnologia ou aplicação:

– Ou ela facilita a nossa vida de alguma forma (celular);

– Ou se apresenta como uma alternativa mais barata para algo que queremos ou precisamos (WhatsApp);

– Ou é uma alternativa melhor para algo que queremos por um preço similar às alternativas já existentes (Uber).

Mais fácil, mais barato ou melhor. Esse é o tripé da inovação que funciona < quando se combina os três temos uma killer application (Netflix) >.

Acontece que nenhuma dessas inovações “surge” de repente. Elas são reflexos de mudanças tanto no ambiente tecnológico quanto no contexto social, chamadas “tendências”. Por isso, de certa forma, elas são “antecipáveis” ou “previsíveis”.

O problema não é apontar tendências. O problema maior é fazer as pessoas se sensibilizarem ao ponto de tomar uma atitude proativa de “prevenção contra a catástrofe”. Imagine tentar convencer o dono de uma videolocadora no início da primeira década do Século XXI que o seu negócio não teria futuro e que ele seria simplesmente dizimado nos anos vindouros.

Pois é…

A MESMA COISA ESTÁ ACONTECENDO NESSE MOMENTO COM RELAÇÃO ÀS ACADEMIAS.

Existe uma mudança em curso no ambiente tecnológico e no comportamento das pessoas que vai, em pouco tempo, aprofundar ainda mais a crise no segmento das academias e, por extensão, criar dificuldades para todos os envolvidos nos negócios vinculados ao fitness < professores, personal trainers, studios, etc. >.

Ninguém está prestando muita atenção < ainda > porque parece algo distante da nossa realidade. Mas a internet, o telefone celular e até mesmo o automóvel foram todos, em dado momento, tecnologias distantes e aparentemente inacessíveis, transformadas em algo trivial nos dias de hoje.

Mas as tendências dão “pistas” e, se ficar atento, você consegue captá-las. Acompanhe as próximas linhas com muita atenção pois vou lhe fornecer um vislumbre do futuro.

Os gastos com aulas e treinos digitais (on-demand fitness services) subiram mais de 37% em comparação com anos anteriores. Muitos inscritos nesses serviços, cerca de 66%, são ex-clientes de academias¹. E tem mais: Os gastos com fitness digital são agora SUPERIORES aos gastos com yoga e Pilates².

Wow!

Esses dados são da empresa Cardlytics e foram extraídos de 120 milhões de transações bancárias oriundas de cerca de 1.500 instituições financeiras. Além do aumento dos gastos com fitness digital a Cardlytics foi capaz de identificar também que a venda de mensalidades de academias vem diminuindo desde 2015.

Empresas de serviços de fitness digital oferecem uma variedade crescente de aulas e treinamentos especializados e estão se sofisticando rapidamente, por um preço a partir de U$5/mês.

Tome como exemplo a Daily Burn que começou a transmitir aulas online ao vivo em 2015. Atualmente a assinatura básica dá acesso a mais de 200 aulas 24 horas/dia por U$15 mensais.

A Beachbody, que até 1998 vendia fitas de aulas em VHS pela TV, lançou em 2015 seu serviço de streaming e hoje conta com uma base de assinantes de 800.000 pessoas que preferiram deixar a academia e fazer seus exercícios pela TV ou pelo celular em casa (ou no parque da cidade, no quarto do hotel, etc.).

Considere também que desde 2016 o ACSM coloca os dispositivos de rastreamento de atividades (wearable technologies) no top 3 do seu relatório anual de tendências globais de fitness³. De acordo com a PwC em 2014 um em cada cinco norte-americanos já possuía um dispositivo desses. Na China espera-se que 24,5% da população tenha um wearable até 2019⁴.

Podemos fazer várias análises e abstrações desses dados mas vou me ater a apenas dois pontos cruciais:

– 66% dos assinantes são ex-clientes de academias. O modelo de negócios tradicional das academias se esgotou. A crise é muito mais uma reação do público a esse modelo do que uma restrição de ordem financeira.

Beware of the robots! Com os avanços nos sistemas e assistentes virtuais inteligentes a tarefa básica feita pelos professores e treinadores será em breve desempenhada por máquinas: Prescrever exercícios com base no interesse e nas restrições do indivíduo; acompanhar e corrigir os movimentos.

Melhor, mais fácil ou mais barato. Qualquer um desses vai encontrar um omniconsumidor ávido por trocar o velho pelo novo < ou seria o irrelevante pelo atual? >

Não estou dizendo que os canais digitais vão obliterar as academias por completo e tornar todos os professores obsoletos. Ainda assim, as alternativas de fitness digital vão tornar a vida das empresas e profissionais de fitness bem mais difícil.

Veja que a internet e as pequenas telas (computadores, celulares, tablets e e-readers) não fizeram desaparecer totalmente os jornais impressos < pelo menos por enquanto >. No entanto, muitos já pararam as prensas e os que sobreviveram tiveram que se reinventar.

A única saída para escapar da insignificância e ser completamente ignorado pelo mercado é investir na TRANSFORMAÇÃO DO SEU MODELO DE NEGÓCIOS. E isso vale para todos na cadeia de valor do fitness: Academias, studios, professores, personal trainers.

O que você faz hoje atende os agora bem referenciados “5%” que praticam academia⁵. Uma boa dica como ponto de partida: Seja a ANTÍTESE do que o mercado oferece. “Reme contra a maré” e busque principalmente os “rejeitados”: Os velhos, os novos, os descondicionados e os que tem medo de se machucar praticando esportes⁶.

E antes que você diga “ – Ah! Mas na minha academia todos são tratados igualmente, não tem discriminação” que fique bem claro que estou falando aqui de MODELO DE NEGÓCIOS e não de “atenção personalizada” ou “atendimento de professor”. Busque o novo e novas formas de tratar e envolver seus clientes. Transforme-se. Qualquer que seja a direção, mude!

Nas palavras do Gen. Eric Shinseki:

– Se você não gosta de mudanças vai gostar ainda menos de irrelevância.

 

CLEVERSON COSTA

PhD Student

Lisbon School of Economics & Management

Universidade de Lisboa – Portugal

 

REFERÊNCIAS

  1. Leslie, J. (2017, March 9). On-demand fitness eats up more workout dollars. 11Alive. http://www.11alive.com
  2. Bachman, R. (2017, January 1). The Fitness Shift That Should Worry Every Gym Owner. The Wall Street Journal. http://www.wsj.com
  3. Thompson, W. R. (2017). Worldwide Survey Of Fitness Trends For 2018: The Crep Edition. ACSM’s Health & Fitness Journal21(6), 10-19.
  4. Long, D. (2017, December 12). Chinese wearable devices to overtake the US market this year. The Drum. http://www.thedrum.com
  5. Ministério do Esporte (2015). Diagnóstico Nacional do Esporte. http://www.esporte.gov.br/diesporte/
  6. Salter et al. (2018, January 3). 2018’s biggest fitness trends, tried and tested. The Telegraph. http://www.telegraph.co.uk

1 comentário Adicione o seu

  1. Vladimir Martins disse:

    Cleverson, sou coordenador da Pratique Fitness e estudante incansável do tema marketing digital e já o acompanho a um bom tempo. Excelente texto! Concordo com você, haverá uma disruptura em breve na área fitness, provavelmente vinda do streaming e da IA. O tema também foi abordado no último RD SUMMIT. Ou seja, só nos resta evoluir e nos apropriar das tecnologias exponenciais.

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